10 de out. de 2011

hoje eu decidi não fazer nada. nada daquilo que não me agrada. nada de levantar cedo, de caminhar 45 minutos até a escola, nada de pegar vento na cara e ficar escabelada. nada de me estressar. nada de nada.
decidi ficar aqui, no lugar mais gostoso da casa: a cozinha.

aqui onde tem uma janela enorme (que vive respingada de água da torneira) e que nem me dá uma visão tão privilegiada, uma vez que o que tenho em frente é um prédio. eu não gosto daquela parede que vejo. mas do lado direito, no cantinho ali, bem tímida e escondida tem uma árvore. grandona, cheia de folhas, folhas que agora estão amareladas e caindo no chão. e em dias como hoje que decidi fazer nada, vejo ela balançando pra lá e pra cá com esse vento que quase ganha do meu minuano lá do sul. eu disse q-u-a-s-e.

pois bem, olhando para essa árvore me peguei pensando em quantos outonos já vivi aqui e percebi que já completei dois anos de irlanda. as pessoas me perguntam quanto tempo estou aqui e eu continuei dizendo 'quase dois anos'. dois anos poxa, é muito tempo. como pude deixar isso passar despercebido? como fui me envolver nessa rotina de aula e trabalho e mais aula e mais trabalho e afazeres domésticos e pouco tempo livre e esquecer o aniversário de algo tão importante pra mim? ainda bem que decidi fazer nada hoje.

estou eu aqui, tomando meu café... nossa, esses dois anos passaram muito rápido, e foi tudo tão intenso que parece uma eternidade. saí do brasil com duas malas, muito espirito aventureiro e sem medo de ser feliz. hoje, o espírito aventureiro ainda existe, a felicidade alcançada 99% e as malas... bem... espero eu ter grana para pagar excesso de todas as malas que vou ter que carregar para o brasil um dia. e eu ainda digo 'viajei pouco'. nossa, que ridícula que eu sou. viajei menos do que gostaria, fato. mas viajei muito mais do que imaginava uns anos atrás. as coisas que vi e vivi, e continuo vendo e vivendo são tem explicação. não tenho como descrever a sensação de cada dia. não consigo descrever as mãos suando ao embarcar em um avião (todas as vezes, sem exceção). não tenho como descrever aquela sensação horrível de ter que carimbar o passaporte. sempre vem o medo do 'e se der errado'. bobagem de principiante, né? pode até ser, mas sou sempre principiante em um país novo.
não tenho como descrever a sensação de felicidade e tristeza que andam lado a lado todos os dias. a felicidade de estar onde eu quero e a tristeza de não ter as pessoas que amo. a felicidade de andar livre pelas ruas com segurança, e a tristeza de andar sozinha. a felicidade de viver algo diferente (bom ou ruim) e a tristeza de nem sempre ter com quem dividir.

dois anos. nossa, dois anos não é nada comparado com tudo o que tenho ainda pela frente, mas é muito se levar em consideração o que passei. óbvio que irlanda não é um mar de rosas. o que fica são as boas lembranças, mas tem as histórias tristes também. as angústias de achar emprego, o pânico de ver o dinheiro acabando, a raiva de aguentar gritos de um chefe estúpido, a grosseria dos clientes... enfim. dizem que está me servindo de aprendizado para lidar com todo e qualquer tipo de gente no futuro. espero que sim.

e vou ficando por aqui, fazendo nada. o café acabou, o vento continua, o sol resolveu brilhar. essa é minha rotina, uma inconstância diária de acontecimentos inesperados que não me deixa dúvida de que fiz a escolha certa em ter vindo para cá.

Um comentário:

Rosa Veiga disse...

Eu sinto a mesma sensação de felicidade e tristeza todos os dias:
Sou muito feliz por tu estar aí, vivendo teu sonho, escrevendo tua história e construindo teu futuro;
A tristeza é por não poder te abraçar, de não poder dividir contigo meus bons e maus momentos, até mesmo minhas fofocas...rsrsrsrsr
Enfim... são as contradições do ser humano.
Mas no contexto geral, a felicidade fica em maior escala!!!
bjussss
te amo!